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Niède Guidon morre aos 92 anos e deixa legado na arqueologia brasileira

Arqueóloga Niède Guidon, na Serra da Capivara (PI) - Foto: Paulo Vitale/Divulgação

Pesquisadora desafiou teorias sobre o povoamento das Américas e criou o Parque Nacional Serra da Capivara, reconhecido como Patrimônio da Humanidade da Unesco

A arqueóloga Niède Guidon morreu nesta quarta-feira (4), aos 92 anos, no município de São Raimundo Nonato, no Piauí. O velório ocorre até a meia-noite no auditório do Museu do Homem Americano, e o enterro está previsto para esta quinta-feira (5). Reconhecida internacionalmente, ela foi responsável por descobertas que colocaram o Brasil no centro dos debates sobre a origem da ocupação humana nas Américas.

Formada em história natural pela USP e doutora pela Universidade de Paris, Niède Guidon ficou conhecida por desafiar a teoria tradicional do povoamento do continente americano. Enquanto a hipótese da teoria “Clóvis Fist” sustentava que o ser humano chegou às Américas há cerca de 13 mil anos pelo Estreito de Bering, suas pesquisas na Serra da Capivara, no Piauí, identificaram vestígios humanos com até 105 mil anos.

Ela foi fundadora do Parque Nacional Serra da Capivara, criado em 1979 e reconhecido pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. Também criou a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), responsável por preservar e estudar os mais de 1.300 sítios arqueológicos catalogados na região.

Apesar do ceticismo da comunidade científica, principalmente norte-americana, Guidon teve apoio de instituições europeias e de colegas brasileiros. O arqueólogo Walter Neves, um dos maiores nomes da área, ou anos questionando suas descobertas, mas reconheceu em 2010 estar 99,9% convencido da validade dos achados.

Nascida em Jaú (SP), em 12 de março de 1933, Niède dedicou sua vida pessoal e acadêmica à ciência. Criou projetos sociais com comunidades locais, como uma fábrica de cerâmica, e lutou por infraestrutura para a região, cobrando investimentos em turismo e preservação ambiental.

Embora tenha colecionado críticas e enfrentado resistências políticas, deixou um legado imensurável para a ciência brasileira e para a arqueologia mundial. Niède Guidon não teve filhos, mas formou gerações de pesquisadores e será lembrada como pioneira e visionária.

Alessandra Lontra

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